Eleição
A DOUTRINA BÍBLICA DA ELEIÇÃO por Claude Duvall Cole
PARTE I
Eleição! Que palavra abençoada! Que doutrina gloriosa! Quem não se regozija ao saber
que foi escolhido para uma grande bênção! A eleição é para a salvação - a maior de todas
as bênçãos. E é estranho dizer que é uma verdade negligenciada, mesmo por muitos que
dizem crer nela. Outros têm um sentimento de repulsa à simples menção desta verdade
revelada na Bíblia, que honra a Deus e torna o homem mais humilde. Spurgeon disse:
"Parece haver um preconceito arraigado na mente humana contra esta doutrina, e embora
a maioria das outras doutrinas seja recebida por crentes professos, algumas com cuidado,
outras com prazer, esta parece ser mais comumente negligenciada e rejeitada". Se isto era
verdade no tempo de Spurgeon, quanto mais o é em nossos dias. Com respeito a esta
doutrina há um abandono alarmante da fé de nossos antepassados batistas. E por falar
neste artigo de nossa fé, os batistas chegaram ao ponto de ter um credo calvinista e outro
arminiano.
Mas há alguns que amam a doutrina da eleição. Para eles, ela é a base profunda sobre a
qual as outras doutrinas da redenção humana são colocadas. E a amam o bastante para
pregá-la, mesmo em face a críticas e perseguição. E preferem resignar a seus púlpitos, do
que ficarem calados sobre este princípio precioso da fé, uma vez entregue. Mas todos os
que amam a doutrina a odiaram um dia, portanto não têm nada de que se vangloriar. Cada
homem é um arminiano por natureza. É preciso que o trabalho regenerador do Espírito
Santo e da Palavra de Deus, ensinada pelo Espírito, façam uma pessoa amar a doutrina da
eleição. Como é profundamente importante que os crentes a aprendam! Para isto
devemos conhecer a sabedoria superior de Deus, cujos "pensamentos não são os nossos
pensamentos". A Bíblia foi dada para corrigir nosso modo de pensar. O arrependimento é
uma mudança de mente como resultado de uma mudança no modo de pensar. Não
podemos ir à Bíblia como críticos; ela é quem nos critica. Não podemos ir à Bíblia como
se fôssemos infalíveis, mas pela graça, podemos ir humildemente. Que Deus dê graça a
cada escritor e leitor, para que possamos ter a atitude de coração certa diante de Deus. A
evidência mais real de que uma pessoa é salva, é a atitude certa que ela tem em relação à
Palavra de Deus. Caro leitor: Deixe que o escritor o avise contra "fazer pouco" sobre
qualquer doutrina da Bíblia.
As doutrinas da graça têm encontrado expressão em dois sistemas de teologia,
conhecidos comumente como Calvinismo e Arminianismo. Estes dois sistemas não
receberam o nome de seus fundadores, mas foram eles que os popularizaram. O sistema
da verdade, conhecido como Calvinismo, foi pregado por Augustinho, no tempo antigo, e
antes dele por Cristo e os apóstolos, sendo enfatizado especialmente pelo apóstolo Paulo.
O sistema do erro, conhecido como Arminianismo, foi proclamado por Pelágius, no
século V. Entre estes dois não há posição mediana; cada homem está de um lado ou de
outro, em seu pensamento religioso. Alguns tentam misturar os dois, mas este não é um
pensamento correto. Dizer que não somos Calvinistas nem Arminianos é fugir do
assunto. O Paulinismo é representado ou pelo Calvinismo ou pelo Arminianismo. O
sistema verdadeiro é baseado sobre a verdade da depravação total do homem; o sistema
do erro é baseado sobre o dogma romano da vontade própria.
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OBSERVAÇÕES GERAIS PARA ACABAR COM O PRECONCEITO
Não há nenhuma doutrina tão vergonhosamente mal representada. A queixa do irmão A.
S. Pettie contra os inimigos da depravação total é aplicada aqui com toda justiça, quando
ele diz: "De lábios hostis, uma afirmação justa e correta da doutrina, nunca é ouvida". O
tratamento que a doutrina da eleição recebe das mãos de seus inimigos é muito parecido
com o que os cristãos primitivos receberam dos imperadores romanos. Os cristãos antigos
foram muitas vezes vestidos de peles de animais sacrificados, e depois sujeitos ao ataque
de animais selvagens ferozes. Do mesmo jeito a doutrina da eleição é vestida com um
traje horrível, e exposta ao ridículo e zombaria. Agora vamos tentar despir esta verdade
gloriosa do seu traje falso e vicioso, com o qual mãos inimigas a vestiram, e colocar os
trajes de santidade e sabedoria.
1. Eleição não é salvação, mas é para a salvação.
"Pois que? o que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros
foram endurecidos", Rom. 11:7; "...por vos ter Deus elegido desde o princípio para a
salvação"; II Tess. 2:13. Então, se o eleito obtém a salvação, e a eleição é para a salvação,
ela deve preceder à salvação. Os homens são salvos quando crêem em Cristo, não quando
são eleitos. Roosevelt não foi presidente quando foi eleito, mas quando foi empossado.
Não houve só uma eleição, mas uma indução ao cargo. Os eleitos de Deus são induzidos
à posição de santidade pela chamada eficaz (o trabalho de vivificação do Espírito Santo),
através do qual tornam-se crentes no Evangelho. Veja I Cor. 1:29 e II Tess. 2:13-14.
2. A eleição não é a causa de ninguém ir para o inferno, porque a eleição é para a
salvação.
Também a eleição não é responsável pela perdição dos pecadores. O PECADO é que
manda os homens para o inferno, e todos os homens são pecadores por natureza e prática
- totalmente pecadores, à parte da eleição ou não. Isto não quer dizer que porque a eleição
é para a salvação, que a não eleição é para a perdição. O PECADO é o elemento que
condena na vida do homem. A ELEIÇÃO NÃO PREJUDICA A NINGUÉM.
3. A eleição pertence ao sistema da graça.
Nos dias de Paulo houve um remanescente entre os judeus que foi salvo de acordo com a
eleição da graça (Rom. 11:5). A atitude dos homens em relação à eleição é o teste final de
sua crença na graça. Aqueles que se opõem à eleição não podem consistentemente
proclamar que crêem na salvação pela graça. Isto é visto nos credos da cristandade. As
denominações que crêem na salvação pelas obras não dão lugar à doutrina da eleição em
suas confissões de fé; os que crêem na salvação pela graça, à parte do mérito humano,
não falham em incluir eleição em seu credo escrito. Um grupo é encabeçado pelos
católicos romanos; o outro grupo pelos batistas.
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4. A eleição não impede a salvação de ninguém que queira ser salvo.
Mas é preciso fazer uma distinção entre um simples desejo de se escapar ao inferno e o
desejo de ser salvo do pecado. O desejo de ser salvo do inferno é natural - ninguém quer
ficar queimando. O desejo de ser salvo do pecado é espiritual, e é um resultado da obra
convincente do Espírito Santo. E a graça eficaz de Deus é a mãe desse desejo.
Representar a eleição dizendo que Deus prepara o banquete do Evangelho, e um homem
chega à mesa faminto pelo pão da vida, mas Deus diz: "Não! Isto não é para você, pois
não é um dos meus eleitos", é representar mal a Santa Doutrina. Aqui está a verdade:
Deus preparou o banquete, mas o fato é que ninguém quer vir à mesa! "E todos à uma
começaram a escusar-se". Deus sabia como a natureza caída ia agir, e Ele não perdeu a
chance de que Sua mesa ficasse completa, por isso disse a Seus servos que saíssem e os
compelissem a vir. Veja Lucas 14:23. Se não fosse pela obra redentora de Cristo, não
haveria nenhum banquete do Evangelho; se não fosse pela obra compulsória do Espírito
Santo, não haveria nenhum convidado à mesa. Um simples convite não traz ninguém à
mesa.
5. A eleição significa que o destino dos homens está nas mãos de Deus.
Muitos de nós consideramos como um axioma a afirmação de que o destino de cada
homem está em suas próprias mãos. Mas isto é negar o teor inteiro das Escrituras. Em
nenhum momento o destino dos santos está em suas mãos, nem antes nem depois de
salvos. Meu destino estava em minhas próprias mãos antes da minha salvação? Se
estivesse, eu me regenerei e ressuscitei pelo meu próprio poder, de um estado de pecado e
morte; sou meu próprio benfeitor e não tenho que agradecer a ninguém, a não ser a mim
mesmo por estar vivo e salvo. Que tal pensamento pereça! "Pela graça de Deus sou o que
sou". Leia João 1:13, Efésios 2:1-10, II Timóteo 1:9 e Tiago 1:18.
Meu destino está em minhas próprias mãos agora? Então vou me manter salvo ou perder
a minha salvação. Mas a Bíblia diz que somos guardados pelo poder de Deus, através da
FÉ. I Pedro 1:15, Salmos 37:28, João 10:27-29, Filipenses 1:6 e Hebreus 13:5. Se meu
destino não estiver seguro em minhas mãos depois da minha salvação, então como
poderia imaginá-lo salvo em minhas próprias mãos antes da minha conversão?
O santo morre, seu corpo é sepultado e se torna pó. O destino dele está ainda em suas
mãos? Se estiver, que esperança tem de sair do túmulo com um corpo imortal e
incorruptível? Ninguém, mas ninguém mesmo, tem seu destino em suas próprias mãos.
Tal teoria, de que o destino dos santos está ou já esteve em suas mãos, é contrária às
próprias leis da natureza e implica que a água pode subir acima do nível de sua fonte; que
o homem pode erguer-se até o sótão pelo cadarço do sapato; que o etíope pode mudar sua
cor e o leopardo pode tirar suas manchas; que a morte pode gerar a vida; que a evolução é
verdade e que Deus é mentiroso. A teoria de que o destino de alguém está em suas mãos
gera autoconfiança e justiça própria; a crença que o destino está nas mãos de Deus gera
AUTO-ABNEGAÇÃO E FÉ EM DEUS.
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6. A eleição permanece firme ou cai com a doutrina da soberania de Deus e depravação
do homem.
Se Deus é soberano e o homem é depravado, então segue-se uma conseqüência natural,
que alguns serão salvos, ou ninguém será salvo, ou todos serão salvos. Os resultados
práticos da eleição são que alguns, sim muitos, serão salvos. A eleição não é um plano
para salvar só um simples bocadinho de gente. Cristo deu-Se como resgate por muitos.
Veja Mateus 20:28 e Apocalipse 5:9. A soberania de Deus envolve Seu prazer, João 5:21
e Mateus 11:25-27; Seu poder, Jó 23:13, Jeremias 32:17 e Mateus 19:26; e Sua
misericórdia Rom. 9:18.
7. Os eleitos são manifestados em arrependimento, fé e boas obras.
Estas graças, sendo feitas por Deus ao homem, não são as causas, mas as evidências da
eleição. Veja I Tessalonicenses 1:3-10, II Pedro 1:5-10, Filipenses 2:12-13 e Lucas 18:7.
O homem que não ora, que não se arrepende dos seus pecados e confia em Cristo, e que
não se empenha nas boas obras não tem o direito de dizer que é um dos eleitos de Deus.
ALGUNS PONTOS DE VISTA FALSOS EXAMINADOS E REFUTADOS
Muitos crentes professos realmente não têm uma opinião sobre eleição. Eles nem mesmo
pensam bastante, nem estudam para ter qualquer opinião sobre ela. Muitos têm pontos de
vista errados. Vamos notar alguns deles.
1. O ponto de vista que os homens são eleitos quando crêem. Este ponto de vista é
facilmente refutado, porque é contrário tanto ao senso comum, quanto às Escrituras. A
eleição é para a salvação, e portanto, deve precedê-la. Não tem sentido falar em eleger
um homem para alguma coisa que ele já tem. O homem tem salvação quando crê e
portanto a eleição neste ponto não seria necessária. A ELEIÇÃO TEVE LUGAR NA
ETERNIDADE: A SALVAÇÃO TEM LUGAR QUANDO O PECADOR CRÊ.
2. O ponto de vista que a eleição pertence só aos judeus. Este ponto de vista tira dos
gentios o conforto de Romanos 8:28-29. Além disso, Paulo, que foi um apóstolo aos
gentios, diz que ele suportou tudo pelos eleitos, para que eles pudessem obter a salvação,
II Timóteo 2:10.
3. O ponto de vista que a eleição teve lugar na eternidade, mas que foi tendo em vista o
arrependimento previsto e fé.
De acordo com este ponto de vista, Deus, na eternidade, olhou através dos séculos e viu
quem ia se arrepender e crer, e estes que Ele viu de antemão foram eleitos para a
salvação. Este ponto de vista está correto só em um ponto, que é: a eleição teve lugar na
eternidade. Mas está errado quando faz a base da eleição ser algo no pecador, em vez de
alguma coisa em Deus. Leia Efésios 1:4-6, onde diz que a eleição e predestinação são
"segundo o beneplácito de Sua vontade" e "para louvor e glória de Sua graça". Este ponto
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de vista, apesar de ser o mais popular entre a maioria dos batistas hoje, está aberto a
muitas objeções:
(1) Ele nega o que a Bíblia diz sobre a condição do homem por natureza. A Bíblia não
descreve o homem natural como tendo fé, I Coríntios 2:14 e João 3:3. Tanto o
arrependimento quanto a fé são dons de Deus, e Ele não viu estas graças em nenhum
pecador, à parte do Seu propósito de dar-lhes. "Deus com a Sua destra o elevou a
Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados", Atos
5:31. "E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: Na
verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida", Atos 11:18. "Instruindo
com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para
conhecerem a verdade", II Timóteo 2:25. Leia também Efésios 2:8-10 e I Coríntios 3:5. A
eleição não foi por causa de uma fé prevista, mas por causa da descrença prevista. Não é
a eleição dos fiéis de Deus, mas a fé dos eleitos de Deus, se quisermos manter as palavras
da Escritura, Tito 1:1.
(2) Ele faz a raça humana diferir por natureza, visto que, a Bíblia diz, que todos nós
somos por natureza filhos da ira e todos barro da mesma massa, Efésios 2:3 e Romanos
9:21. Os a homens são diferentes quanto ao novo nascimento, João 3:6.
(3) Ele perverte o significado das Escrituras da palavra "pré-conhecimento". Esta palavra,
como está na Bíblia, significa mais do que conhecimentos sobre as pessoas. É o
conhecimento das pessoas. Em Romanos 8:29-30 os conhecidos são predestinados à
imagem de Cristo, e são chamados, justificados e glorificados. Em I Pedro 1:2 a palavra
para "presciência" é a mesma para "conhecido" no vigésimo versículo do mesmo
capítulo, onde o significado não pode ser "conhecimento" sobre Cristo. O conhecimento
de Deus sobre as pessoas não tem limites, ao passo que Seu conhecimento de pessoas é
limitado aos que são realmente salvos e glorificados.
(4) Ele está aberto à objeção mais forte que pode ser feita contra o ponto de vista da
Bíblia. Sempre se pergunta: "Se certos homens são eleitos e salvos, então o que adianta
pregar aos que não são eleitos? Com igual propriedade podemos perguntar: "Se Deus
sabe quem vai se arrepender e crer, então porque pregar àqueles que de acordo com Seu
conhecimento não vão se arrepender nem crer?" Será que alguns que Ele sabia que não se
arrependeriam nem creriam, vão se arrepender e crer? Se for assim, Ele previu uma
mentira.
É esta a fraqueza de muitas missões modernas. Ela está baseada na compaixão pelo
perdido e não na obediência ao mandamento de Deus. A inspiração das missões é feita
para depender dos resultados práticos do esforço missionário e não no prazer de fazer a
vontade de Deus. É o princípio de fazer uma coisa, porque os resultados nos satisfazem.
Se formos fiéis, Deus se agradará com os nossos esforços, mesmo sem resultados. Pense
em II Coríntios 2:15-16. A eleição precedente à conversão deles é conhecida só a Deus.
Temos que pregar o Evangelho a cada criatura, porque Ele mandou fazer isto. Deus
cuidará dos resultados. Veja Isaías 55:11, I Coríntios 3:5-6 e João 6:37-45. Nossa
responsabilidade é testemunhar; Deus é quem fará nosso testemunho eficaz.
A DOUTRINA DEFINIDA, EXPLICADA E PROVADA.
O que é eleição, como o termo é usado na Bíblia? Eleição significa uma escolha -
selecionar dentro - separar - tomar um e deixar o outro. Se houvesse uma dúzia de maçãs
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numa cesta e eu tirasse todas elas, não haveria escolha; mas se eu tirar sete e deixar as
outras cinco, então houve escolha. A eleição, como é ensinada na Bíblia, significa que
Deus fez uma escolha entre os filhos dos homens. No princípio Ele fez Sua escolha sobre
certos indivíduos a quem deu Seu Filho, e por quem Cristo morreu como Substituto, e
que no tempo certo ouvem o Evangelho e crêem em Cristo para a vida eterna. Vamos
ampliar o assunto, fazendo três perguntas muito relativas:
1. QUEM FAZ A ELEIÇÃO?
Quem escolhe as pessoas para serem salvas? Se os homens são escolhidos para a
salvação, como afirmam as Escrituras, quem fez a escolha? Deve haver uma seleção ou
universalismo. A linguagem das Escrituras parece definir peculiarmente em resposta a
esta pergunta. Marcos 13:20 fala do ELEITO, a quem Ele ELEGEU, traduzido em nossa
versão: "...por causa dos eleitos que Ele escolheu". A palavra eleição está associada com
Deus e não com o homem. Deus é quem escolhe. Seu povo são os ESCOLHIDOS e a
graça é a fonte. A teologia de que Deus vota a nosso favor, Satanás contra, e que nós
damos o voto decisivo é completamente fora dos ensinamentos das Escrituras, e é quase
ridícula demais para ser notada. Leia João 15:16, II Tessalonicenses 2:13 e Efésios 1:4.
2. QUANDO A ELEIÇÃO É FEITA?
Como resposta somos silenciados pelas Escrituras. Mas a Bíblia responde com clareza
total. Em Efésios 1:4 lemos que "Como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo". A expressão "antes da fundação do mundo" é encontrada em João 17:24, onde
fala de amor eterno do Pai pelo Filho, e em I Pedro 1:20, onde se refere à determinação
eterna da mente divina, em relação à morte de Cristo. Há muitas expressões semelhantes.
Veja Apocalipse 13:8, II Tessalonicenses 2:13 e II Timóteo 1:9. A ELEIÇÃO É
ETERNA!
3. POR QUE FOI FEITA A ELEIÇÃO?
Ela foi baseada em algo bom no pecador? Então ninguém teria sido eleito, porque não há
ninguém bom. A santidade não é a causa, mas o efeito da eleição. Fomos escolhidos, não
porque fôssemos santos, mas para que fôssemos santos. Efésios 1:4. Como já vimos
antes, a eleição não foi feita tendo em vista arrependimento e fé previstos. A eleição é a
causa de arrependimento e fé, e não o efeito destas graças. Dizer que Deus escolheu
homens para a salvação porque viu que eles se arrependeriam, creriam e seriam salvos é
atribuir tolices ao Deus infinitamente sábio. É como se o presidente assinasse um decreto
que o sol deverá nascer amanha, porque ele previu que nascerá; ou como se um escultor
escolhesse um pedaço de mármore, porque previu que ele se transformaria na imagem
desejada por ele. Desafiamos qualquer arminiano a fazer estas perguntas e conseguir as
respostas nas Escrituras.
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OBJEÇÕES CONSIDERADAS E RESPONDIDAS
Muitas são as objeções feitas contra esta doutrina. As vezes, os objetores se tornam
barulhentos e furiosos. Que pena que tantos destes objetores estejam nas fileiras batistas!
Pregar esta doutrina antiquada da nossa fé, como fizeram Bunyan, Fuller, Gill, Spurgeon,
Boyce, Broadus, Pendleton, Graves, Jarrel, Carrol, Jeter, Boyce Taylor e uma multidão
de outros homens representantes da nossa denominação, é cortejar o tipo mais amargo de
oposição. O próprio John Wesley nunca disse palavras mais ásperas contra esta doutrina
abençoada de nossa fé, como o fazem alguns "batistas" de hoje. O Arminianismo que
descende do papado, tem crescido anormalmente nas duas últimas décadas, como o filho
adotivo de um grande grupo de batistas.
1. OBJETA-SE QUE NOSSO PONTO DE VISTA DA ELEIÇÃO LIMITA A
MISERICÓRDIA DE DEUS.
Aqui mesmo criticamos os críticos, porque quem faz esta objeção, limita tanto a
misericórdia como o poder de Deus. Ela admite que a misericórdia de Deus é limitada ao
crente, e concordamos com isto, mas nega que Deus pode fazer um homem crer, sem
forçar-lhe a vontade, assim limitando o poder de Deus. Cremos que Deus pode dar ao
homem uma mente sadia, II Timóteo 1:7, fazendo-o disposto no dia do Seu poder. A este
ponto devemos enfrentar duas proposições auto-evidentes. Primeira: se Deus está
tentando salvar cada membro da raça caída de Adão, e não Se sai bem, então Seu poder é
limitado e Ele não é o Senhor Deus Todo-Poderoso. Segunda: se Ele não está tentando
salvar cada membro da raça caída, então Sua misericórdia é limitada. Necessariamente
teremos que limitar Sua misericórdia ou Seu poder, ou ir de malas e bagagens para a
posição Universalista. Mas, antes de fazermos isto, vamos "à lei e ao testemunho" que
diz: "Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia…..Logo pois compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer",
Romanos 9:15-18. É necessário dizer, para o conforto e esperança de grandes pecadores,
que a misericórdia de Deus não é limitada pela condição natural do pecador. Todos os
pecadores estão mortos, até que Deus os faça vivos. Ele pode tirar o coração de pedra.
Nenhum homem é tão grande pecador que não possa ser salvo. Podemos orar pela
salvação do maior dos pecadores com a certeza de que Deus o salvará, se for Sua
vontade. "Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo
quanto quer o inclina", Provérbios 21:1. Regozijamo-nos ao dizer como Jeremias que não
há nada muito difícil para Deus. Podemos orar pela salvação de nossos entes queridos,
com o sentimento do leproso, quando disse: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me
limpo". Mateus 8:2. Quando Robert Morrison estava quase para ir para a China, um
americano incrédulo perguntou-lhe se achava que iria causar alguma impressão nos
chineses. A resposta de Morrisson foi: "Não. Mas creio que Deus pode". Esta deve ser
nossa confiança e esperança, quando estivermos diante dos pecadores, pregando para eles
"CRISTO CRUCIFICADO".
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2. OUTRA OBJEÇÃO A ELEIÇÃO É QUE ELA TORNA DEUS INJUSTO.
Esta objeção trai um coração mau. Ela faria o CRIADOR ter obrigação para com a
CRIATURA. Ela faz da salvação uma obrigação divina. Ela nega o direito do oleiro
sobre o barro da mesma massa, de fazer um vaso para honra e outro para desonra. Pela
mesma igualdade de raciocínio, ela faz o governador de um estado soberano, injusto ao
perdoar um ou mais homens, a menos que esvazie a prisão e solte todos os prisioneiros.
Nesse ponto de vista a eleição está em harmonia com o que até mesmo os arminianos
dizem ser próprio e justo para um governador humano. Todos podem ver que um
governador, ao perdoar alguns homens não prejudica os outros que não são perdoados.
Os que não são perdoados não estão na prisão porque o governador recusou-se a perdoálos,
mas porque eram culpados de um crime contra o estado. Será que Deus não merece
tanta soberania quanto o governador de um estado? A salvação, como o perdão, é algo
não merecido. Se fosse merecido, então Deus seria injusto, se não a desse a todos os
homens.
A salvação não é um assunto de justiça, mas de misericórdia. Não foi o atributo de justiça
que levou Deus a providenciar a salvação, mas o atributo da misericórdia. A justiça é
simplesmente cada homem receber o que merece. Os que vão para o inferno não vão
culpar ninguém, a não ser eles mesmos, enquanto que os que vão para o céu não vão
louvar ninguém a não ser a Deus. Leia Romanos 9:22-23.
3. OUTRA VEZ OBJETA-SE QUE NOSSO PONTO DE VISTA DA ELEIÇÃO É
CONTRA A DOUTRINA DO "QUEM QUISER".
Mas o objetor está errado outra vez. Nosso ponto de vista explica e apoia a doutrina do
"QUEM QUISER". Sem eleição, o convite a "QUEM QUISER" seria desconsiderado. A
doutrina bíblica do "QUEM QUISER" não implica na liberdade nem na habilidade da
vontade humana de fazer o bem. A vontade humana é livre, mas esta liberdade está
dentro dos limites da natureza humana caída. Ela é livre como a água: a água é livre para
descer pela montanha. É livre como o urubu: ele é livre para comer carniça, porque esta é
sua natureza. Mas o urubu morreria de fome num campo de trigo. Não é a natureza dele
comer o que é limpo; ele se alimenta de carniça, do que está morto. Assim também os
pecadores morrem de fome na presença do pão da vida. Nosso Senhor disse: "E não
quereis vir a mim para terdes vida", João 5:40. Não é natural para um pecador confiar em
Cristo. A salvação através da confiança num Cristo crucificado é uma pedra de tropeço
para o judeu e loucura para o grego. Só os chamados, tanto judeus como gregos, é que
confiam nela como a sabedoria e poder de Deus. Veja I Coríntios 1:23-24.
Eis aqui uma pessoa morta fisicamente. Ela é livre para se levantar e andar? Num sentido
é, pois não está amarrada com correntes! Não há nenhum impedimento externo. Mas
noutro sentido, este defunto não é livre. Ele está impedido por sua condição natural. É sua
natureza decompor-se e voltar ao pó. Não é natureza da morte o movimenta-se. Eis aqui
um morto espiritualmente - um homem morto em ofensas e pecados. Este homem está
livre para se arrepender, crer e fazer boas obras? Num sentido, sim. Não há impedimentos
externos. Deus não evita, mas oferece motivos através de Sua Santa Palavra. Mas o morto
é impedido por sua própria natureza. É necessário haver o milagre do novo nascimento,
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pois a não ser que o homem nasça de cima, ele não pode ver, nem entrar no reino de
Deus, João 3:3-5.
É doloroso para alguns de nós ver nossos irmãos deixarem a fé de nossos antepassados
batistas nesse ponto, e se juntarem às fileiras dos católicos romanos e arminianos. Se
alguém duvidar desta acusação, faça com que leia o artigo de fé adotado pelos católicos
no concílio de Trento (1563). Cito a afirmação sobre a liberdade da vontade humana: "Se
alguém afirmar que desde a queda de Adão a liberdade do homem está perdida, que seja
maldito!" Mas que pena! Nestes dias, tal espírito não está confinado apenas aos católicos
romanos. Horácio Conar faz a seguinte citação de João Calvino: "Os teólogos papistas
têm uma distinção geral entre eles, que Deus não elege os homens de acordo com as
obras que estão neles, mas que escolhe aqueles que prevê que serão crentes".
O problema real com o objetor não é a eleição; mas é algo mais. Sua objeção real é a
depravação total do homem ou incapacidade de fazer o bem. O que posso fazer de melhor
aqui é citar Percy W. Heward, de Londres, Inglaterra. Ele diz: "Parece-me que a maioria
das objeções à graça soberana de Deus, ao amor eletivo de Deus, são realmente objeções
a algo mais, a saber objeções ao fato de que o homem está arruinado. Se sondarmos a
superfície, iremos descobrir que há pouca objeção à eleição. Por que deveriam objetar? A
eleição não prejudica ninguém. Como pode a escolha de um homem condenado ferir
alguém? A objeção real nestes dias não é à eleição, apesar da palavra dar a deixa da triste
controvérsia - a objeção real é ao fato que está revelado no Salmo 51, que diz que somos
formados na iniqüidade, que nascemos pecadores por natureza, mortos em pecados até
que, como lemos referindo-se a Paulo em Gálatas I: "Mas, quando aprouve a Deus, que
desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho
em mim" Ah! queridos amigos, não merecemos nada, a não ser a condenação. Reconheça
isto e a eleição é a única esperança. Reconheça que somos pobres pecadores perdidos,
mortos em ofensas e pecados, só maus continuamente; reconheça que não há no homem
nenhuma faísca natural a ser transformada em chama, mas que os crentes nascem
novamente da semente incorruptível que o Senhor coloca; reconheça que se alguém está
em Cristo há uma nova criação, porque somos feitura Sua, tendo sido criados em Jesus
Cristo, e a eleição será reconhecida imediatamente".
Cada crente verdadeiro, em seus joelhos, assina nosso ponto de vista da eleição. Você
não pode orar atribuindo algum crédito a si mesmo. A graça soberana será revelada em
oração, mesmo que não seja pregada no púlpito. Nenhum salvo vai se ajoelhar diante de
Deus dizendo que é diferente dos não salvos, mas como Paulo ele dirá: "Pela graça de
Deus sou o que sou". E ao orar pelos perdidos suplicamos que Deus os convença e
converta. Não dependemos da liberdade deles, mas imploramos a Deus para fazer com
que sintam a vontade de vir a Cristo, sabendo que quando vierem, Ele não os lançará
fora. Veja João 6:37.
Um ministro metodista uma vez foi ouvir um ministro presbiteriano pregar. Após o
sermão, o metodista disse ao presbiteriano: "Foi um ótimo sermão arminiano o que
pregou hoje". "Foi mesmo", replicou o presbiteriano. "Nós presbiterianos somos ótimos
arminianos quando pregamos e vocês, metodistas, são ótimos Calvinistas quando oram".
HÁ MAIS VERDADE DO QUE POESIA AQUI!
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4. OBJETA-SE TAMBÉM QUE NOSSO PONTO DE VISTA DA ELEIÇÃO É UMA
NOVA DOUTRINA ENTRE OS BATISTAS MISSIONÁRIOS.
O fato é que ela é tão antiquada que quase saiu da moda. A ignorância que se vê em tal
afirmação é sem dúvida digna de pena. Para refutá-la, recorremos a duas fontes de
informação: (1) Confissões de fé e (2) Afirmações de pastores representantes e escritores.
(a) CONFISSÕES DE FÉ
Os paterinos, de acordo com W. A. Jarrel, recorreram ao texto no capítulo 9 de Romanos,
como prova das doutrinas da ELEIÇÃO INCONDICIONAL. Veja o livro da história de
Jarrel. Os paterinos foram antigos progenitores dos batistas.
Os valdenses, pelos quais a sucessão da igreja batista deve ser traçada, declararam-se
como se segue: "Deus salva da condenação e corrupção aqueles a quem Ele escolheu
desde a fundação do mundo, não por uma disposição qualquer, nem fé, nem santidade
que previu neles, mas por Sua simples misericórdia em Jesus Cristo, Seu Filho, deixando
todos os outros de acordo com a razão irrepreensível de Sua própria livre vontade e
justiça". A DATA DESTA CONFISSÃO É 1120.
As confissões de Londres (1689) e a de Filadélfia (1742) dizem o seguinte: "Pelo decreto
de Deus, para manifestação de Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados ou
ordenados a VIDA ETERNA, através de Jesus Cristo, para o louvor de Sua graça
gloriosa; outros sendo deixados para agirem em seus pecados para sua justa condenação,
para o louvor de Sua justiça gloriosa".
A confissão de New Hampshire (Artigo 9) diz: "Cremos que a eleição é o propósito
eterno de Deus, segundo o qual Ele regenera graciosamente, santifica e salva pecadores
que, sendo perfeitamente consistente com a livre ação do homem, ela compreende todos
os meios em conexão com o fim; que é a manifestação mais gloriosa da bondade
soberana de Deus, sendo infinitamente gratuita, sábia, santa e imutável; que exclui
completamente a vanglória e promove a humildade, o amor, a oração, o louvor, a
confiança em Deus e imitação ativa de Sua misericórdia gratuita; que encoraja o uso dos
meios no mais alto grau; que pode ser verificada por seus efeitos em todos os que crêem
verdadeiramente no Evangelho; que é a base da segurança cristã e que para verificá-la
com respeito a nós mesmos, exige e merece a máxima diligência".
(b) PASTORES REPRESENTANTES E ESCRITORES!
John A. Broadus, antigo presidente do Seminário Teológico Batista da Convenção: "Do
lado divino vemos que as Escrituras ensinam uma eleição eterna de homens para a vida
eterna, simplesmente vinda da boa vontade de Deus".
A. H. Strong, antigo presidente do Seminário Teológico de Rochester: "A Eleição é o ato
eterno de Deus, pelo qual em Sua vontade soberana, e não por causa de nenhum mérito
previsto neles, Deus escolhe certo número de pecadores para serem recipientes da graça
especial do Seu Espírito e assim serem feitos participantes voluntários da salvação de
Cristo".
B. H. Carrol, fundador e 1º presidente do Seminário Batista Sudoeste da Convenção:
"Cada um que Deus escolheu em Cristo é atraído pelo Espírito a Cristo. Cada um
predestinado é chamado pelo Espírito em tempo, justificado em tempo e será glorificado
quando o Senhor vier", Comentários em Romanos.
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J. P. Boyce, fundador e 1º presidente do Seminário Teológico Batista da Convenção:
"Deus por Seu próprio propósito, desde a eternidade, determinou salvar um número
definido da raça humana como indivíduos, não por causa de nenhum mérito nem obras
deles, nem de qualquer valor deles para Deus, mas por Sua própria boa vontade".
W. T. Connor, professor de Teologia do Seminário Batista da Convenção, em Fort
Worth, Texas: "A doutrina da eleição significa que Deus salva em continuação a um
propósito eterno. Isto inclui todas as influências do Evangelho, trabalho do Espírito Santo
e assim por diante, que leva o homem a se arrepender dos seus pecados e aceitar Cristo.
Acerca da liberdade do homem, a doutrina da eleição não significa que Deus decreta
salvar um homem independente de sua vontade. Pelo contrário, significa que Deus
propõe guiar um homem de tal maneira que ele livremente aceitará o Evangelho e será
salvo".
Pastor J. W. Lee, de Batesville, Miss: "Creio que Deus decretou antes da fundação do
mundo, que salvaria certos indivíduos e que estabeleceria todos os meios para efetuar a
salvação deles, em Seus termos. Os homens e mulheres não são eleitos porque se
arrependem e crêem, mas se arrependem e crêem, porque são eleitos".
A lista acima de batistas bem conhecidos e honrados podemos acrescentar citações de
Gill, Gulier, Spurgeon, Bunyan, Pendleton, Mullins, Dargan, Jeter, Eaton, Graves e
outros numerosos demais para mencionar. É uma triste verdade que muitos de nossos
pastores mantenham eleição como uma opinião particular e nunca a preguem.
Pessoalmente conhecemos um número de irmãos que dizem que a eleição é ensinada
claramente na Bíblia, mas que não podemos agüentar pregá-la, porque trará problemas às
Igrejas. Isto é pior do que se comprometer; é a rendição da verdade. É um espírito que
leva os pastores a desagradarem a Deus, a fim de agradarem aos homens. O escritor crê
que o silêncio sobre este assunto tem feito mais mal do que uma oposição aberta a ele.
Aqueles que se opõem abertamente à eleição, cedo ou tarde, vão se fazer ridículos aos
olhos de todos os batistas que amam a Bíblia.
5. OBJETA-SE ALÉM DISSO QUE NOSSO PONTO DE VISTA DA ELEIÇÃO TORNA
OS HOMENS DESCUIDADOS DE SUA VIDA.
Diz-se que a crença na doutrina leva os homens a dizer: "Se sou eleito, serei salvo; se não
sou eleito, ficarei perdido, portanto não importa o que creio nem o que faço". A mesma
objeção tem sido feita persistentemente contra a doutrina da preservação dos santos. Este
é um raciocínio ousado. É colocar a razão humana contra a revelação divina. Ela não dá
importância à operação da graça de Deus no coração humano. Se os batistas abandonam a
eleição em tal plano, para serem consistentes, terão que abandonar a doutrina da
preservação no mesmo plano. A eleição não significa que o eleito será salvo quer creia
quer não, nem significa que o não-eleito ficará perdido, sem consideração do quanto
possa arrepender-se e crer. O eleito será salvo pelo arrependimento e fé, e os dois são
dons de Deus, como já mostramos antes; o não eleito não se arrepende nem crê.
A objeção que estamos considerando agora é simplesmente não verdadeira ao fato real.
Os que crêem na eleição estiveram e ainda estão entre os mais santos. Agustus Toplady
desafiou o mundo a produzir um mártir dentre os que negam a eleição. Os puritanos, que
foram chamados assim por causa da grande pureza de suas vidas, com poucas exceções
(se houver), criam na eleição pessoal, eterna e incondicional, e naturalmente, na
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segurança de crente. O modernismo, fruto do inferno, está rapidamente aumentando o
número de seus aderentes, mas estão vindo das fileiras do Arminianismo. Outros já
desafiaram o mundo a achar um só arminiano, ou um só espiritualista, ou um só russelita,
ou um só cientista cristão que creia na soberania absoluta de Deus e na doutrina da
eleição Sem uma exceção estes horríveis hereges são arminianos. Este é um fato
significativo que não deve ser considerado por nós como sem importância.
6. OS OBJETORES DECLARAM QUE NOSSO PONTO DE VISTA DA ELEIÇÃO
DESTRÓI O ESPÍRITO DE MISSÕES.
Eles afirmam corajosamente que se a eleição incondicional deve encontrar aceitação
universal entre nós, que devemos deixar de ser um povo missionário. Há uma quantidade
enorme de evidências históricas com as quais refutamos esta afirmação. Abaixo de Deus,
o pai das missões modernas foi William Carey, um calvinista sincero. Andrew Fuller, 1º
secretário da sociedade que mandou Carey à Índia, agarrava-se tenazmente ao nosso
ponto de vista da eleição. Isto não destruiu o espírito missionário destes homens. "A
prova de que o pudim está gostoso é comê-lo" A crença na eleição não destruiu o espírito
missionário em Judson, Spurgeon, Boyce, Eaton, Graves, Carrol e uma hoste de outros
lideres batistas. A igreja Murray, a qual o Dr. J. F. Love chamou a maior igreja
missionária na terra, ouviu sermões sobre eleição por Boyce Taylor durante quase
quarenta anos. As maiores igrejas missionárias entre nós hoje são aquelas que foram
purificadas das heresias de James Arminius.
A eleição é a própria base da esperança no esforço missionário. Se tivermos de depender
da disposição natural ou vontade de um pecador morto, que odeia a Deus, para responder
ao Evangelho, podemos nos desesperar. Mas quando notamos que é o Espírito que
vivifica, vamos adiante com o Evangelho da graça de Deus, esperando que Ele faça
alguns, pela natureza distantes, a se voltarem para Ele, crendo na salvação da alma. A
eleição não determina a extensão das missões, mas o resultado delas. Devemos pregar a
toda criatura, por que Deus ordenou, e porque Lhe agrada salvar pecadores pela loucura
da pregação. Cremos mais em eleição do que os batistas que no crêem em missões.
Cremos que Deus elegeu meios da salvação, tão bem como pessoas para a salvação. Ele
não escolheu salvar pecadores à parte do ministério do Evangelho, Romanos 1:16.
A eleição dá firmeza ao Evangelismo, o qual é grandemente necessário hoje. Ela
reconhece que os pecadores "criam pela graça", Atos 18:27, e que mesmo que Paulo
possa plantar e Apolo regar, mas é Deus quem dá o crescimento. O Arminianismo tem
tido seu dia entre os batistas e o que tem feito? Tem dado a nós o poder humano, mas tira
de nós o poder de Deus. Tem aumentado o maquinismo, mas diminuído a espiritualidade.
Tem enchido nossas igrejas de "Ismaéis", em vez de "Isaques" por seu ministério de
"orgulho" e com o método de "quantidade e não qualidade".
Se precisar de apoio adicional na Escritura, leia os seguintes versículos: Salmos 65:4,
Atos 13:48, João 6:37, 6:44-45, 17:1-2, Mateus 11:25-26, II Coríntios 12:3, 10:4.
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A DOUTRINA BÍBLICA DA ELEIÇÃO
PARTE II
A CORRESPONDÊNCIA ENTRE DR. COLE E MAJORIE BOND II PARTE
Ao Dr. C. D. Cole 1505 Scotland Street
746 W. Noel - Route 2 Calgary, Alberta, Canadá
Madisonville - Kentucky 5 de outubro de 1959
Caro Dr. Cole
Apesar de ser uma completa estranha para o senhor, meus pais conheceram o Dr. Shields
e recebem regularmente o jornal "The Witness" Como resultado de um dos seus artigos
que li há vários anos atrás, sinto que devo escrever-lhe, a fim de poder receber mais luz
sobre este assunto de Eleição.
Seu artigo abriu uma linha de pensamento completamente nova para mim. Como a
maioria das pessoas, não dei a ele a mínima importância (a princípio), mas fui desafiada
por ele, e até mesmo fiquei muito perturbada. Desde então, tenho voltado a lê-lo várias
vezes e finalmente este verão comecei a estudá-lo com ansiedade mortal! Li o que pude
de Spurgeon sobre este assunto; Dr. Shields, e também pedi emprestado uma cópia da
Teologia de Strong, a qual achei um tanto difícil de ler! Em tudo e por tudo tenho me
tornado tão obcecada com esta doutrina, que quase não consigo pensar em outra coisa. E
ainda há tanto que não entendo. Sei que "Enganoso é o coração, mais do que todas as
coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9), e talvez o meu esteja enganado,
quando digo que realmente acho que as perguntas que vêm à minha mente não se opõem
tanto de uma relutância em admitir a depravação total do homem, quanto o fazem em
harmonizar a doutrina com outras passagens da Escritura.
Sempre pensei que eleição e predestinação fossem algo sobre o qual os presbiterianos
estivessem um pouco por "fora" (desculpe minha gramática ruim!). Nunca me ocorreu
que houvesse tanta evidência sobre ela nas Escrituras, nem que os batistas criam nela!
Contudo, sinto que se esta doutrina for ensinada nas Escrituras, como parece que é, então
devo aprender mais sobre ela e crer nela, quer goste quer não, e quer entenda
completamente quer não.
Minha mente está rodando, como um esquilo numa jaula, até que fico realmente exausta.
Quando chega o momento em que penso que a entendo e aceito, Satanás parece levantar
novas dúvidas para me atormentar. Isto deixa a gente quase sem fôlego. Depois de ficar à
beira da morte, pensar que a gente podia não ter sido eleita! Verdadeiramente, como
nunca antes, posso ver que nossa salvação é toda pela graça. Sempre pensei, quando
falávamos em salvação, como sendo totalmente pela graça de Deus, o que significa que
Seu plano ou idéia de salvar nos era um favor imerecido, já que nada em nós merecia
sequer Seu desejo de nos salvar; e também que era um dom o qual nunca poderíamos
ganhar por nosso trabalho ou adquirir justiça suficiente para merecê-la. Mas é óbvio que
a graça engloba muito mais do que isto. Quando a gente nota que uma pessoa nem
mesmo ia querer a salvação, a não ser que fosse eleita, então vemos como somos
tremendamente devedores à graça - porque é graça do começo ao fim!
Já pensei algumas vezes se as objeções que sentimos em relação à eleição são dirigidas
mais com respeito à idéia da completa soberania de Deus do que em relação à depravação
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total. Parece ser contra a natureza humana pensar que Deus pode fazer o que Ele quer
conosco e não temos nenhum poder de fazer nada sobre isto.
Até hesito em colocar em palavras algumas das objeções que vêm à minha mente, com
receio de ser culpada de blasfêmia ou sacrilégio; porque sempre fui ensinada que é uma
coisa muito séria criticar a Deus. E ainda, com interesse de clarear meus pensamentos
sinto que devo confessar-lhe alguns dos pontos sobre eleição que estão me atribulando e
que parecem contradizer outros versículos na Bíblia, e outras doutrinas.
Eu também ensino uma classe bíblica para moças e estamos estudando este assunto
(receio que seja um cego guiando outro cego). Vamos ter uma noite de debates sobre
eleição no dia 5 de novembro, por isso gostaria de esclarecer alguns pontos em minha
própria mente antes deste dia.
Talvez a forma mais fácil para o senhor responder será eu colocar minhas perguntas em
forma de pontos:
1. A maioria das pessoas sente imediatamente que a eleição é injusta. Noto, em seu
panfleto, e também nas Escrituras, que Deus não deve a nós o salvar ninguém, e por isso
Ele tem o direito de dar o dom da salvação a quem quiser. Mas, mesmo assim, o
sentimento persiste que se uma pessoa não tem nem mesmo uma chance de aceitar ou
rejeitar a salvação, ela "não tem mais chance", no modo de dizer.
Antes de estudar eleição, sempre pensava que se alguém ficasse, mesmo que
remotamente interessado na salvação, então, em resposta às orações de parentes e amigos
interessados, o Espirito Santo operaria no coração daquela pessoa e a traria sob convicção
ao lugar onde pudesse se decidir a favor ou contra Cristo.
Mas, se só as pessoas que vão aceitar Cristo são as que foram "marcadas na orelha" para
a salvação e isto de antemão, então a gente sente que o resto da raça não tem uma chance,
nem mesmo a de recusar. Até que ponto elas são responsáveis por serem perdidas?
Uma moça do sul em minha classe, disse-me após a aula: "Se este ensinamento for certo,
tudo parece tão sem esperança. Pensei que qualquer pessoa pudesse ser salva; que a
decisão era dela. Mas se Deus já decidiu de antemão, ela não tem nenhuma chance, não
importa o quanto oremos a seu favor".
Tentei mostrar que toda a raça humana estava perdida, com ou sem eleição. Que a eleição
de alguns não significa que os outros sejam piores de que teriam sido sem a eleição. Mas
mesmo assim - com uma parte de mim - sei como esta moça se sente, porque de vez em
quando, a despeito de toda minha oração por luz, tenho o mesmo sentimento... que se a
gente não é eleito,
não tem nenhuma chance! A gente sente como se toda a questão tivesse sido tirada de
nossas mãos e não recebemos a mesma chance dos outros.
Compreendo todo o argumento sobre o governador da prisão também, e concordo com
ele com minha cabeça! Mas meu coração continua dizendo que, apesar de ser verdade
que um homem não está na prisão porque o governador não o perdoou. mas antes por
causa do que fez de errado, todavia a falta de perdão o mantém lá!
Há algum versículo na Bíblia que apoie a interpretação que se não tivéssemos sido
eleitos, nunca teríamos o menor interesse na salvação? Sei de Romanos 8:7,8 e também
de outras passagens, que em nosso estado natural somos inimigos de Deus. Mas sempre
pensei que se o Espírito Santo operasse no coração humano, por exemplo, em alguém que
mostra interesse em se tornar crente, então esta pessoa tem uma chance de decidir se quer
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ser salva ou não. Mas, é evidente, que o Espírito Santo nem mesmo trabalha no coração
de alguém que não foi eleito. Há versículos para isto?
2.. Se Deus escolhe só certas pessoas para a salvação, ou capacita só certas pessoas
para se beneficiarem para a salvação, então o que a gente faz com versículos iguais a
João 3:16? Pensei que Cristo tivesse morrido 'pelos pecados do mundo inteiro' (I João
2:2), não só pelos eleitos.
E o que significam versículos tais como "Não querendo que alguns se percam, senão que
todos venham a arrepender-se" e também ~ Mas Deus...anuncia agora a todos os homens
e em todo lugar, que se arrependam". Se o homem não tem poder para se arrepender se
não for eleito, e Deus não o elegeu, como este homem é responsável por não obedecer o
mandamento de Deus para se arrepender; e, além do mais, como se pode dizer que Deus
não está disposto a que nenhum pereça, se Ele não capacita todos para serem salvos?
3. Como o senhor explica o fato de que, às vezes, uma pessoa mesmo sob grande
convicção decida-se contra a salvação? Ela era ou não eleita? Meu pai, que morreu em
julho passado, era um grande cristão leigo e médico, o qual levou muitas almas a Cristo
em seu consultório e pela pregação leiga. Ele me contou uma história que tinha lido ou
um testemunho - não me lembro bem o que foi. Mas uma moça assistiu várias vezes as
reuniões de uma conferência de reavivamento, noite após noite, e parecia estar
profundamente tocada. Na realidade ficou claro ao pregador que ela estava sob profunda
convicção. Na última noite, quando o apelo foi dado, ela saiu do seu lugar e retirou-se do
edifício. Um obreiro a seguiu e ouviu-a dizer, olhando as estrelas: "Não quero ser crente.
Por que não me deixa em paz. Gosto de minha vida do jeito que é, e não estou preparada
para mudar meu jeito de viver. Por favor, Espírito Santo, deixe-me em paz e não me
aborreça. E com uma risada de gelar os ossos ela desapareceu na noite. Esta moça foi
morta num acidente poucas horas depois, se não me falha a memória.
Então, o que quero saber é isso: ela era eleita? E se não, como pôde sentir tal convicção
para começar? O Espírito Santo perde tempo, no modo de falar, convencendo alguém do
pecado, mas com quem Deus nem mesmo elegeu? E se era eleita, por que não atendeu o
apelo? Pensei que a eleição significas se que a pessoa tinha que ir à frente, quer notasse
que não. É possível que certas pessoas sejam escolhidas para a salvação, mas por sua
própria vontade, a rejeitem?
4. Também, por favor, explique o versículo "muitos são chamados, mas poucos os
escolhidos". Se quer dizer "muitos são chamados, mas poucos aceitam", posso entendêlo.
Mas não sei qual a diferença entre 'chamar' e 'escolher'. Para mim parecem a mesma
coisa.
5. Finalmente, a despeito de todos os argumentos ao contrário, encontrei-me em meio a
um tipo de atitude fatalista - e que tiver de ser, será. Talvez isto se deva mais às minhas
leituras sobre a soberania de Deus, do que sobre a Eleição.
Mas pergunto a mim mesma: "Se Deus tem um plano para cada indivíduo e cada nação;
se Ele ordena os poderes à existência e se põe e depõe os reis, etc.; se Ele é
completamente Soberano, então Ele vai executar Sua vontade, não importa os esforços de
Satanás para impedi-lo, ou a falha do homem por sua parte.
O senhor diz que porque Eleição é um assunto secreto, temos que testemunhar de
qualquer maneira e deixar os resultados para Deus. Está certo. Mas, por outro lado, não
posso ver o que importa sabermos ou não, já que Deus conhece quem é eleito e Ele
salvará a pessoas quer façamos nossa parte ou não. Só porque deixo de testemunhar,
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Deus não vai ser impedi do em Seu desígnio de salvar certas pessoas. O próprio fato de
Deus as ter escolhido é suficiente para assegurar que serão salvas, quer testemunhemos
ou não, pela simples razão de que Deus é Soberano e já as elegeu para a salvação.
Concordo que não sei quem é eleito e quem não é. Mas não preciso saber. Estas pessoas
serão salvas de qualquer jeito, se esta é a vontade de Deus.
Li na Teologia de Strong que nossas orações nunca vão fazer Deus mudar de idéia. 0
princípio é que, enquanto crescemos em nossa experiência crista e vivemos mais perto de
Deus, vamos aprender a orar pelas coisas que estão de acordo com Seu propósito para
nós; portanto Ele pode responder nossa oração!
Mas me pergunto novamente: Se Ele tem planos para os indivíduos e nações, eles serão
trazidos a Cristo sem nossas orações. Se for assim, então, o que pensamos ser resposta às
nossas orações são só o cumprimento de um plano divino, que teria sido realizado muito
bem sem nossa oração. Mas, como não podemos ver o futuro, pensamos que
convencemos Deus e por isso dizemos que Ele nos respondeu. Mas, já que Ele planejou
um certo curso para nós, isto acontecerá do mesmo jeito, de qualquer maneira. 0 senhor
entende o que quero dizer?
Sempre pensei que, de uma certa forma, nós convencíamos Deus, contanto que não
pedíssemos alguma coisa fora de Sua vontade - quero dizer com isto: Seu prazer ou
vontade consentidos, em vez de um plano premeditado e fixo. Acho que pensei, por
exemplo, que se um ente querido ficasse doente e o Senhor n30 tivesse uma decisão real
feita de que era o tempo desta pessoa morrer, Ele pouparia a vida dela em resposta à
oração. Mas, de acordo com a soberania, a razão pela qual Ele poupa é simplesmente
porque ainda Deus não quer que ela morra, portanto minha oração não tinha nada a haver.
A pessoa ficaria boa de qualquer jeito, se este fosse o plano decretado por Deus, ou então
morreria se este fosse Seu plano.
Se a oração não faz Deus mudar de idéia, então de que adiantaria Abraão interceder por
Sodoma e Gomorra? Deus teria salvo os 50, ou 40 ou 10 de qualquer jeito, se fossem
encontrados. E também para que Moisés intercedeu por Israel? Deus tinha um plano para
Israel e Ele o executaria, quer Moisés orasse ou não. Por que Moisés e nós oramos então,
por alguma coisa que vai acontecer, quer oremos ou não?! Para mim, isto destrói o
propósito total da oração, e faz com a gente quase se sinta enganada ao pensar que faz
alguma coisa através da oração, quando na realidade tudo já estava decretado de antemão.
Por exemplo: no caso do orfanato de Mueller. Deus tinha um plano para que esse trabalho
fosse executado, já que Ele é Soberano. Se a oração não conta nada para com Deus, quero
dizer para influenciá-Lo, então aquele caminhão de leite teoria dado o prego em frente ao
orfanato (suprindo assim todas aquelas crianças com o leite necessário) quer Mueller
tivesse passado a noite de joelhos ou não? De acordo com os teólogos não foram as
orações de Mueller que resultaram no aparente suprimento miraculoso de leite para o
orfanato, mas era só parte de um plano que teria sido realizado de qualquer modo, quer
Mueller tivesse passado a noite dormindo ou orando. Não compreendo isto. Para mim, tal
raciocínio contradiz Tiago 5:16 e outros que ensinam a importância da oração. As vezes
fico pensando se o problema não está na interpretação que os homens dão às Escrituras,
em vez de ser com a própria Escritura.
Esta é uma carta terrivelmente comprida. Peco-lhe desculpas por ser tão faladeira. Mas
este assunto é muito vasto, eu acho, para ser discutido por correspondência. Como
desejaria poder sentar-me e conversar com o senhor!
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Estou guardando uma cópia desta carta, para que possa recorrer a ela quando sua resposta
chegar. Espero que o senhor não pense que estou lhe impondo alguma coisa; mas seu
panfleto realmente mexeu comigo. Posso ver onde a eleição é sem duvida uma doutrina
maravilhosa, se não parecesse contradizer outros versículos das Escrituras.
Espero e oro que o senhor possa me dar mais luz, e que não se sinta ofendido com uma
carta tão longa de uma estranha.
Agradeço-lhe desde já, de coração, sua resposta.
Sinceramente, Marjorie Bond
D. MarJorie Bond 746 West Noel
1505 Scotland Street Madisonville, Kentucky
Calgary, Alberta, Canadá 20 de outubro de 1959
Cara senhora:
Saudações no Nome dAquele cujo Nome é sobre todo nome! Sua carta datada do dia 5
próximo passado foi recebida pontualmente. Ela não podia ter-me encontrado mais
ocupado, sendo este o motivo de minha demora em responder. Sou o secretário da
Associação Batista Betel e sua carta chegou bem no primeiro dia da nossa reunião anual.
Havia muito trabalho para preparar para a reunião, durante os dias dela, e muito mais
trabalho para colocar o material nas mãos de impressor. Pensei logo em escrever uma
cartinha breve contando a situação e prometendo responder-lhe devidamente o mais
depressa possível. Então ocorreu-me que podia aproveitar o tempo na esperança de
resolver o assunto, antes que o tempo mencionado pela senhora se esgotasse. Acredito
que a senhora não vai considerar minha demora como uma evidência de indiferença de
minha parte. Além disso, devido a doenças da idade, não tenho mais capacidade para o
trabalho que tanto gostava de fazer.
Primeiro de tudo, deixe-me cumprimentá-la por sua atitude honesta, com respeito à
doutrina da ELEIÇAO e assuntos relativos; e também pela sua compreensão destas
doutrinas. Quase nunca recebo uma carta tão bem escrita, sobre qualquer assunto. A
senhora colocou seus problemas em uma perspectiva clara, o que torna mais fácil lidar
com eles. Posso responder com passivamente, porque seus problemas são também os
meus. Gostaria muito de resolvê-los para a senhora, mas temo que meus esforços a
desapontem.
Creio que a senhora está excessivamente perturbada por causa de sua incapacidade de
harmonizar tudo o que está na Bíblia. Este Livro é a revelação do Deus Infinito, e a
mente finita não pode entender com perfeição a tudo quanto Deus revelou. Poder fazer
isto seria um argumento contra a Bíblia como inspirada por Deus, e reduzi-la a uma mera
produção humana. Portanto, a determinação de harmonizar contradições aparentes é com
certeza o resultado de uma das três coisas encontradas na vida real. Ou se quer ignorar a
Soberania de Deus por um lado, ou a responsabilidade do homem por outro lado, ou
também ser atormentado com uma mente perturbada como a senhora confessa sentir. De
um lado encontram-se os tão chamados Batistas Primitivos (Fatalistas), que não podem
conciliar a incapacidade humana com responsabilidade ao assunto de arrependimento e
fé. Por isso enfatizam as doutrinas da Soberania, dos decretos divinos e incapacidade do
homem, e ignoram as Escrituras que mandam que os pecadores se arrependam e creiam
no Evangelho, portanto não tendo nenhum Evangelho para o perdido. Por outro lado, há
os que pregam as doutrinas da responsabilidade humana e o mandamento para se
arrepender e crer, mas que não têm nada a dizer sobre a incapacidade do homem, os
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decretos divinos e Soberania. Aqui em minha própria igreja e associação, tão bem como
por todo o sul em geral, ouve-se pouco sobre Eleição, Depravação e Soberania na
salvação. Isto porque os irmãos sentem que não podem pregar a ambos; que os dois são
além da reconciliação - se um é verdadeiro o outro tem que ser falso. Mas em seu caso
tanto há determinação em aceitar toda a Escritura, como harmonizá-la, o que resulta
numa mente confusa e perturbada. Vamos, com o risco de sermos chamados
inconsistentes, aceitar tudo o que está nas Escrituras, quer possamos harmonizá-lo ou
não. O Dr. J. B. Moody (um dos meus pais na fé) dizia que se a gente esperasse aceitar as
doutrinas, até que pudéssemos harmonizá-las, nunca as aceitaríamos. A maneira de
harmonizá-las é recebê-las sem questionar, e elas se harmonizarão lá dentro, em sua
alma. Talvez isto não seja exatamente verdade, mas será de muita ajuda. Não estou
dizendo que não devemos nos esforçar para harmonizar o que parecem ser doutrinas
contraditórias, mas sim avisá-la de não ter uma determinação persistente para fazer isto.
Com esta introdução vou agora responder suas perguntas pela ordem.
1. É verdade que a maioria das pessoas (eu diria todas) sente que a eleição é injusta. Isto
não é de estranhar, já que a mente carnal é inimizade contra Deus. As pessoas podem
amar um deus inventado por elas, mas só os crentes nascidos de novo podem amar um
Deus Soberano, que faz o que quer com os Seus. I João 4:7. Os direitos de Deus com a
raça humana pecadora são os mesmos de um oleiro com o barro. Podemos ver
prontamente que o criminoso não tem o direito de reclamar diante de um júri humano. E
é tão justo quanto verdadeiro que o pecador não tem o que reclamar diante de um Deus
ofendido. Portanto, dizer que a eleição é injusta, é colocar a salvação na base da justiça,
tirando assim qualquer esperança de cada pecador.
Quando encontramos pessoas que parecem se interessar na salvação, temos a tendência
de pensar que são eleitas, porque os eleitos não são salvos sem se interessarem na
salvação. E quando oramos pela salvação delas, não estamos pedindo ao Espírito Santo
que as coloque numa cerca onde possam cair de um lado para outro. Elas já estão do lado
errado - a atitude da rejeição, por ignorância, a Cristo - e oramos para que Ele possa tirálas
do reino das trevas para o reino de Seu Filho querido, Col. 1:13. Oramos por sua
conversão, pela fé em Cristo, para que não sejam deixadas à escolha de uma natureza
depravada, porque Ele não convence nem converte todo mundo a quem pregamos e por
quem oramos. É um direito de Sua soberania e não de Sua fraqueza. Não oramos a um
Deus fraco. Contudo, devemos fazer distinção entre o desejo de ser salvo do pecado e o
desejo de ser salvo do Inferno. Ninguém quer ficar queimando, mas o desejo de ser salvo
do pecado é santo e criado pelo Espírito Santo. E quando Ele cria tal desejo, Seu trabalho
de conversão seguirá além. Mas não podemos determinar com segurança o motivo do
desejo.
A senhora pergunta até onde eles (os não eleitos) são responsáveis por serem perdidos.
Eles são responsáveis por todos os pecados que cometeram e também por sua natureza
pecaminosa. O que uma pessoa faz é uma revelação do que ela é Isto não é aparente ao
nosso senso de justiça. Não posso ver como Deus pode justamente me fazer responsável
pelo exercício de uma natureza herdada - uma natureza que nada tive a haver para
adquiri-la e com a qual nasci. Se eu fosse me sentar para julgar a Deus (pereça tal
pensamento) diria que não é justo punir-me por uma natureza pecaminosa que herdei.
Aceito minha responsabilidade pelo pecado, mesmo que não possa entender a justiça
de